A NEGAÇÃO DE PEDRO
A NEGAÇÃO DE PEDRO
Dizem as Sagradas Escrituras, que, na noite em que Jesus foi preso, no Jardim do Getsêmani, nos arredores da Cidade Santa, pelos guardas do Sinédrio, após ser beijado por Judas, o Iscariotes, Pedro, na tentativa de defender o Mestre, desembainhou a espada, e, com um golpe certeiro, decepou parte da orelha direita de Malco, serviçal do Sumo Sacerdote Caifás.
Imediatamente o Rabi repreendeu-o, com veemência, e, tocando com a ponta dos dedos a orelha daquele que fora ferido, curou-o instantaneamente.
Após a prisão consumada, os discípulos de Jesus dispersaram-se todos, escondendo-se, uns, no emaranhado da teia complexa e soturna das catacumbas seculares, enquanto outros, em locais secretos, temendo serem detidos - e levados a julgamento pelos fariseus.
Naquela madrugada, no palácio de Caifás, havia uma faísca de angústia pairando no ar, advinda do desenrolar dos recentes acontecimentos.
Quem não se lembrava que toda Jerusalém, poucos dias antes, acolhera, com pompa e festa digna de um Rei, o Messias, cobrindo o caminho por onde ele passava com pétalas de flores e mantos da mais fina tessitura, saudando-O efusivamente, pelas ruas, gritando em uníssono: “Hosana ao Filho de Davi”?
Ninguém – nem mesmo os Doutores da Lei – duvidava que assistiam a um novo tempo marcado pelas inúmeras curas milagrosas que o Rabi realizara por toda Galileia, e, nas aldeias por onde passava, curando os enfermos, até em dia de sábado, expondo-se, assim, à ira daqueles que não aceitavam tais gestos de de caridade, buscando, assim, na Torah, algo que viesse, enfim, incriminá-lo.
Então, uma turba atônita indagava: - Por que Ele fora preso? Quem tramara tudo aquilo, gerando injustiça, se ELE só praticara o bem?
Assustado com a prisão do Rabi, Pedro, envolto em devaneios, perambulava pela urbe, tentando ordenar os seus pensamentos, na expectativa de encontrar algum companheiro, quando teve uma ideia repentina: Passar-se-ia por servo palaciano para lograr ter informações acerca do paradeiro do Mestre.
Hei-lo, pois, a esgueirar-se por entre as sentinelas do suntuoso palácio do Sumo Sacerdote, adentrando-o, alta hora daquela noite, indo até o pátio central.
Aproxima-se, aos poucos, de uma fogueira, onde a soldadesca da guarda procura aquecer-se do frio.
Ao acercar-se deles, Pedro percebeu, pelo vozerio exaltado, que o assunto daquela roda de conversa era a prisão de Jesus.
Receando ser descoberto como um de seus diletos seguidores, resolveu ficar a uma distância prudente.
Tempos depois, uma jovem escrava aproximando-se dele perguntou-lhe: - Não és tu também seguidor do Galileu? Pedro, gaguejando, disse-lhe: Não! Nem sei nem entendo o que dizes!
E, saindo do átrio, ouviu, em seguida, o galo cantar.
Após certo tempo, um guarda, vendo-o afastado dos outros, indagou-lhe: - Não conhecias tu também o Nazareno? E Pedro, com medo, negou: Não, não o conhecia!
E o galo cantou pela segunda vez.
E, por fim, uma serva palaciana acercando-se dele, fala: - Eu estou te reconhecendo. És tu um dos discípulos do Rabi!
Pedro, aflito, responde: - Sai para lá, mulher! Nem conheço este homem de quem falais!
Nesse instante, o galo cantou pela terceira vez.
Pedro, com a alma atribulada e cheio de remorso, lembrou-se daquilo que o Mestre dissera para ele: - “Nesta noite tu me renegarás três vezes...” e, afastando-se dali para um local ermo, chorou amargamente.
Sem dúvida esta foi a negação extrema de Pedro! E Jesus perdoou-lhe! Desde o primeiro momento! Não só perdoou-o, como fez dele a pedra angular da Igreja, dando-lhe poderes para ligar – e desligar – as coisas entre o Céu e a Terra, instituindo, dessa forma, simbolicamente, uma ponte entre o mundo dos homens e a Divindade – Pai, Filho e Espírito Santo.
E Pedro, ele próprio, que covardemente, num dado momento, dissera não a Jesus, é esta rocha de granito a pairar entre a imensidão destes dois polos tão equidistantes.
Este breve relato bíblico nos impele forçosamente a uma sofrida reflexão: E nós, Pedros do século XXI, muito embora sem a mística daquele, o que fazemos quando vemos o tamanho abissal de nossas omissões ou da falta de empenho em implantar o plano de DEUS entre nós?
Será que choramos de arrependimento? Não! Na verdade, para muitos, isto é completamente rrelevante.
Na maioria das vezes, nós não temos a sensibilidade suficiente em reconhecer estes atos ultrajantes, que asseveram a nossa eterna ingratidão ao Criador, sem nos dispomos a observar os mandamentos da Lei.
E por que agimos assim? Porque, infelizmente, quase todos nós somos egoístas!
Estamos simplesmente interessados com o nosso bem-estar, e, insensíveis, viramos as costas para o irmãozinho sofredor, ao nosso lado, sem nos importarmos com suas dores - e sofrimentos.
Fingimos nada escutar, nada ver. E, qual Pôncio Pilatos, lavamos as mãos e nada fazemos de concreto para remediar tal situação. “Ora, pensamos com os nossos frívolos e vaidosos botões, o outro que procure resolver seus problemas”.
Sei que isto dói e ninguém quer ouvir. Mas o que dizer se tal assertiva é a mais cristalina realidade?
Será que já não é hora de deixarmos o comodismo, que nos sufoca, aprisiona, buscando semear mais amor e esperança pelos caminhos deste mundo?
Digamos sim à vida!
Basta de tanta omissão!
Urge que façamos a nossa parte na realização plena do grande Projeto do Pai.
Afinal de contas, muito embora não queiramos perceber, a felicidade completa reside nisto: AMAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS E AO PRÓXIMO COMO A SI MESMO!
AVELAR SANTOS
A/S CAMOCIM – CE
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