A VIUVA DE NAIM

 A VIÚVA DE NAIM



Dos inúmeros relatos das Sagradas Escrituras que nos falam sobre a misericórdia infinita de Deus, existe um, em particular, que sempre me chamou a atenção, talvez pelo fato de expressar, no seu contexto, uma extrema carga emocional que nos remete, de imediato, ao passado, ao exato momento daquele fantástico acontecimento. 


Refiro-me ao caso do milagre da ressurreição do filho único da Viúva de Naim, narrado brilhantemente por Lucas. Nas palavras do próprio autor sagrado: “E aconteceu que, no dia seguinte, Ele foi à cidade chamada Naim, acompanhado por seus discípulos. E, quando chegou perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único de sua mãe, que era viúva. E com ela ia uma grande multidão. E, vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima compaixão por ela, e disse-lhe: Não chores! E, chegando-se, tocou o esquife (e os que o levavam pararam), e disse: Jovem, a ti te digo: Levanta-te! E o defunto assentou-se, e começou a falar. E entregou-o a sua mãe. E de todos se apoderou o temor, e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande Profeta se levantou entre nós, e Deus visitou o seu povo”.


Quantas reflexões esta bela leitura bíblica nos proporciona!


De um lado, vemos a incomparável miserabilidade do ser humano, enquanto essência mortal – e, sem muito esforço, podemos supor a angústia e a dor imensa da Mãe que vê seu filho único, flor imaculada do seu coração, morto precocemente. E, nos tempos antigos, se a viuvez trazia sofrimentos inimagináveis para a mulher, imaginem perder também o filho amado que dar-lhe-ia, generosamente, o devido suporte para sobreviver dignamente, principalmente na velhice. A cena é deveras chocante e abissalmente triste!


De outra parte, contudo, observamos a alegria intacta dos apóstolos, seguindo fielmente o divino Rabi de Nazaré, por caminhos ermos da Galileia, Judeia e Samaria, ouvindo amiúde a pregação da Palavra, da Boa Nova, em jorros de sabedoria, e que, certamente,  proporcionava uma paz indescritível àqueles homens simples, que se dispuseram a largar absolutamente tudo para segui-LO, presenciando, vezes sem conta, curas milagrosas, fortalecendo-se, assim, dia após dia, ainda mais na sublimidade da Fé.


Ao ver aquela gente entristecida, o Mestre, embora sabendo intrinsecamente de tudo, aproxima-se da turba para verificar do que se tratava. 


Como vimos, era um enterro! Um rosto, dentre tantos, aflitos e agoniados, chama-LHE logo a atenção! Vê, penalizado, uma mulher de meia idade, curvada sob o peso imenso da dor da perda do seu primogênito, banhada em lágrimas, submissa, entretanto, aos desígnios insondáveis dos Céus, andando resignadamente, naquele cortejo fúnebre, com a alma desfalecida sangrando amargamente. 


Movido por grande compaixão por aquela pobre mulher, Ele faz um gesto, quase que imperceptível, aos que carregavam o caixão, e, dirigindo-se calmamente, mas com autoridade inconteste ao falecido, ordena-o que volte à vida, que se levante, pois ainda não é chegada a sua hora. Então, docemente, entrega-o à Mãe, que, em prantos, louvando e bendizendo alto ao Pai Celestial, cobre-o de beijos – e de afagos mil. 


Feliz, com o coração em festa, ela retorna para sua casa, abraçada ao dileto filho, agradecendo a Deus por tê-lo de volta, certa de que não sofrerá, doravante, tão grandes percalços na sua caminhada terrena - e que terá a felicidade de ter a luz dos seus olhos alumiando forte novamente sua estrada.


Que cena linda e poeticamente perfeita!


Depois do milagre, o primeiro que o Messias fez em se tratando de ressurreição, Ele vê as pessoas rapidamente se dispersarem, restando somente alguns amigos, em pequenas rodas, que ainda debatem acaloradamente acerca do estranho fato acontecido.


E quanto a nós, se víssemos tal milagre, qual seria nossa reação? Estamos mesmos receptivos a colaborar com o projeto de Deus, na Terra, ou o nosso coração é duro como pedra, e não se coaduna, infelizmente, com a vontade divina da fraternidade universal, do amor ao próximo, da caridade que supera todo entendimento? Somos céticos ou temos uma fé inabalável no Criador, daquela que pode até mover uma montanha?


Naquela noite memorável, a Mãe, amorosa, pensou todas as suas dores, calou silenciosamente o pranto contido, alvoroçou candidamente o seu espírito, planejando, de forma entusiasta e febril,  como se fora criança, cada passo que trilharia na estrada imponderável do futuro, junto com o seu filho. 


Ao deitar-se, após conversar demoradamente com ele, rebento de sua alma e chama eterna de sua felicidade, um contentamento esfuziante tomou conta do seu ser - e um grande júbilo fez aflorar um doce sorriso no seu rosto cansado. Incontinenti, lembrou-se da figura imponente, embora tranquila, do Rabi, da mansidão de sua voz, da doçura de seu olhar e, sobretudo, da bondade suprema que irradiava DELE - e que parecia aclarar o dia, afugentando sombras e dúvidas. Jamais esqueceria o que Ele fizera por ela.


Olhou para o filho demoradamente, uma vez mais. Serena, lentamente adormeceu.



AVELAR SANTOS

A/S CAMOCIM-CE

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